Estar a
poucos passos de realizar um grande sonho é mesmo algo
indescritível. O coração dispara, as mãos suam em profusão, o
corpo inteiro treme de ansiedade. A fome cessa, os olhos se enchem de
lágrimas a cada lembrança de que o momento está chegando, o
espelho vira um companheiro na hora de treinar o que dizer.
Quando
soube que conheceria meu ídolo Paul McCartney, surgiu uma grande
dúvida na minha cabeça: “O que eu vou dizer a ele, que já me
disse tanto em suas músicas?”. Ensaiei a semana toda perguntas
que queria fazer e, à medida que os dias passavam, mais eu me
questionava se aquilo tudo estava realmente acontecendo na minha
vida. Verdade que eu iria encontrar o artista mais genial da história
contemporânea da música? O dia estava se aproximando...
Meu
marido e eu chegamos a Recife no sábado, dia em que Paul fez seu
primeiro show no Estádio José do Rego Maciel, conhecido como
Estádio do Arruda. Precisávamos buscar o ingresso dele na
bilheteria e seguimos até lá no fim da tarde. Os portões ainda
estavam fechados e havia muita gente nos arredores. No caminho, havia
um vendedor de café ouvindo “All My Loving” na rua e aí
aconteceu a epifania – eu ia realmente conhecer o cara que escreveu
essa e tantas outras músicas que são a trilha sonora da minha vida
e da de tanta gente! Mais uma vez, o coração disparou, as mãos
suaram em profusão, o corpo inteiro tremeu e o choro não pôde ser
contido.
No
domingo, fomos no horário e local marcados para encontrar a equipe
da Planmusic e, de lá, seguir para o estádio. Ali tive meu primeiro
contato com os outros vencedores do “Desafio Paul McCartney” que
me acompanhariam na aventura. Muitos deles são músicos e fãs do
Paul, o que me deixou bastante contente. Assim, tivemos muito o que
conversar nas horas que se seguiram.
Chegamos
ao estádio por volta das 14h e fomos encaminhados à sala de
imprensa, onde conheci também os cinegrafistas da Globo Nordeste que
registrariam o encontro com o eterno Beatle. Permanecemos ali até
poucos minutos antes do início da passagem de som. Fomos levados à
pista e pudemos observar a entrada de cada um dos músicos da banda
no palco. Por último, lá estava ele! Com uma camisa xadrez, colete
preto, calça jeans e tênis preto, mascando chiclete e tomando um
gole aqui e outro ali de água mineral, Paul McCartney cumprimentou o
público que lá estava dizendo que a passagem de som seria curta
desta vez. Cantou diversas músicas, esqueceu a letra de “Penny
Lane”, fez todos rirem ao esquecer-se também dos acordes de “(I
Want To) Come Home” e brincar dizendo que aquela era uma versão
curta da música. Era ele! Incrível, brilhante, simpático como uma
grande personalidade deve ser!
Faltando
duas músicas para o fim da passagem de som, fomos chamados para ir
ao backstage. Chegou a hora! Deixamos nossas câmeras fotográficas e
outros pertences com um dos integrantes da equipe da Planmusic e,
mais uma vez, as regras foram estabelecidas: Paul apertaria a mão de
cada um dos vencedores do desafio, tiraria uma foto coletiva e se
despediria. Nada de abraçá-lo, beijá-lo, puxar seu cabelo ou
qualquer coisa que o valha. E sim: “Não pode chorar!”. Pronto!
“Ih! Me ferrei!”, eu disse, com os olhos cheios de lágrimas,
ouvindo “Bluebird” ao fundo. “Se chorar, a foto vai ficar
feia!”, disse uma das pessoas da organização e eu disse “Mas o
que você faz quando está prestes a conseguir uma coisa com a qual
sonhou a vida inteira?” e ela respondeu: “Ah, mas a gente também
sonha! E precisa se segurar!”. A partir daí, consegui respirar
fundo, controlar o choro e me preparar para o que estava por vir.
Aplaudimos
cada um dos membros da banda assim que eles passaram por nós,
que estávamos enfileirados no corredor ao lado do palco. Todos eles são grandes
músicos e merecem o devido reconhecimento. O primeiro a passar foi o
tecladista Wix Wickens, seguido pelo baterista Abe Laboriel Jr. e
pelo guitarrista Brian Ray. Depois, foi a vez do guitarrista Rusty
Anderson receber nossos aplausos. E então, ele apareceu: Paul
McCartney estava chegando e meus olhos não podiam acreditar!
Conforme
previsto, apertou a mão de cada um de nós, sempre muito simpático.
Quando chegou minha vez, eu disse “Oi!” e ele retribuiu. Então,
viu meu colar, com um pingente em forma da logomarca do Wings e
falou: “Hey! Que legal!” e continuou apertando as mãos das
pessoas que faltavam. Aí, perguntei a ele: “Tudo bem com você?”
e ele respondeu: “Tudo bem! Obrigado!”. Terminou de cumprimentar
todos, voltou para mim e me perguntou: “Qual música você cantou
no vídeo?”. Respondi: “Got To Get You Into My Life!” (“Preciso
ter você em minha vida”, em inglês) e ele brincou: “Você
precisa?”. Como não rir depois disso? Em seguida, me perguntou:
“Você cantou bem?” e eu disse “Bom, acho que sim!” e, sem eu
esperar nem exigir nada, ele me deu um abraço! Correspondi ao abraço
dele, meio tonta com o momento. Era isso mesmo? Depois, ele se virou
para frente, ainda com o braço em volta de mim, e pediu para
tirarmos a foto. Por fim, se despediu e eu só tive tempo de dizer a
ele: “Muito obrigada, Paul!”. Ele falou: “Não há de quê!
Tchau!” e saiu. Ainda tentei fazer uma última pergunta – uma
daquelas que tanto ensaiei durante a semana – mas não deu tempo.
Não faz mal. O que tinha acontecido já era mágico e inesperado
demais!
Quando
ele se distanciou, caí em pranto! Chorei como criança, tentando me
convencer de que tudo o que tinha acontecido era verdade. Os outros
vencedores do concurso vieram me abraçar e disseram: “Ele
conversou com você! Ele te abraçou!” e eu não cabia em mim de
tanta felicidade!
Depois de
tanta emoção, a noite só estava começando. Vieram cerca de três
horas maravilhosas de mais um show inesquecível, cheio de canções
incríveis e algumas novidades no repertório: “The Night Before”,
“My Valentine” (com direito ao belíssimo clipe nos telões),
“Golden Slumbers” e a música que sempre quis ouvi-lo cantar no
palco, “Maybe I'm Amazed” - que quase não consegui acompanhar,
de tão emocionada que eu estava...
Depois de
toda essa aventura, de todas as lágrimas e de todos os sentimentos
que vieram à tona na noite do último domingo, só posso estar
eternamente agradecida pela realização desse sonho. Nunca
conseguirei expressar em palavras o tamanho da minha gratidão – e,
certamente, nem todo um dicionário seria capaz de traduzir o que
senti naquele dia. Entretanto, deixo aqui uma lição que, por mais
piegas que possa parecer, é verdadeira: sonhos se realizam! Eles se
realizam sim! Não me esquecerei disso – nem daquela “beautiful
night”!
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