quinta-feira, 27 de novembro de 2014

What if it rained? We didn’t care!

Quando soube que Paul McCartney voltaria ao Brasil em novembro deste ano, quase não consegui conter minha felicidade. Ainda mais quando se confirmou que uma das cidades escolhidas para voltar com a Out There Tour era São Paulo. Eu já estava planejando ir até lá para resolver algumas pendências pessoais e a notícia me permitiu unir o útil ao (muito mais que) agradável.
Feitos os planos, passei a observar atentamente a previsão do tempo para a capital paulista. No Weather Channel e no Climatempo, a previsão era de chuva para os dias em que eu estaria na cidade. E por mais que eu me solidarize com a necessidade paulistana de que a água jorre do céu, minha torcida era para que o previsto não se confirmasse. Chegando a São Paulo, comemorei (desculpem, paulistas!) cada vez que eu colocava o pé na rua e o sol estava lá, brilhando. Resolvi o que precisava resolver e enfim chegou a hora de ver meu artista preferido no palco. E fazia sol.
Lá pelas 17:30, o céu foi ficando carregado. De repente, uma tempestade com direto a relâmpago, trovão e ventania caiu sobre as filas de fãs, que não arredavam pé. Os portões do Allianz Parque foram abertos e as pessoas foram se amontoando em frente ao palco, nas pistas e arquibancadas, com suas capas de chuva encharcadas. Aqui e ali, algumas reclamações. “Podia parar de chover, né?” “Já tá bom de parar essa chuva!”
Foi quando o DJ Chris Holmes assumiu as pick-ups e começou a esquentar o público com a deliciosa setlist de músicas dos Beatles regravadas por outros artistas. Que chuva o quê! Paul logo estaria no palco e nada mais importava.
Depois, veio o tradicional vídeo com fotos do querido Macca em diversas fases da vida: ainda criança, adolescente, com os Beatles, com o Wings, em carreira solo... A essa altura, a chuva já se misturava às lágrimas - faltava pouco para ver o artista mais incrível do planeta de pertinho.
Então, Paul chegou ao palco e a magia aconteceu. Abriu o show com “Eight Days a Week” e seguiu por quase três horas cantando as preciosidades que compôs ao longo dos cinquenta anos de carreira. Do novo disco (New), escolheu “Save Us”, “Queenie Eye”, “New” (com homenagem dos fãs, que balançaram bastões de neon) e “Everybody Out There”. Do penúltimo disco (Kisses On The Bottom), a eleita foi “My Valentine”, que começa com versos perfeitos para aquela noite: “What if it rained / We didn‘t care”. Chovia muito e nós, da plateia, já não dávamos a mínima.
Entre uma música e outra, a costumeira simpatia do cantor levava todos à loucura. Aprendeu a falar “É nóis!”, “mano”, “Sampa”, “paulistas” e dedicou “All Together Now” à “molecada”. O público retribuiu com balões coloridos durante “Ob-La-Di Ob-La-Da”, celulares acesos em “Let It Be” e canto a plenos pulmões acompanhando a banda em todo o show.
No fim, a sequência “Golden Slumbers / Carry That Weight / The End”, acompanhada pela chuva de papéis picados com as cores do Brasil, lembrou que estava chegando ao fim a noite mágica. Mas não sem antes Paul dizer em bom português duas palavrinhas que soaram como música aos ouvidos de quem estava ali: “Até logo!” O amor dos fãs brasileiros por Paul é muito grande e parece ser correspondido.
Depois do show, fiquei sabendo que não chovia tão forte em São Paulo desde abril e que a chuva continuou caindo nos dias que se seguiram. Sobre isso, alguns comentaram que só mesmo Paul McCartney para fazer chover em São Paulo em plena crise de abastecimento. Milagre de “São” Paul ou não, a tempestade não só não atrapalhou a alegria de quem estava lá como também deixou ainda mais lindas as luzes do palco. O próprio cantor citou os versos iniciais de “My Valentine” para traduzir a sensação de todos naquela noite tão especial. E eu completo com outro de seus versos, de uma música que não estava no repertório escolhido, mas que representa bem o que se passa na cabeça de quem tanto admira seu trabalho: “And love is all that stays / Only love remains”.